quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Filmes Para Ver Antes de Morrer



Já encontrei uma pessoa que disse não ter gostado desse filme. Vá entender...

Os Intocáveis

(The Untouchables)


Belo exemplar do poder de Hollywood

Esse é o tipo de filme “estelar”. Desde o elenco, passando pelo diretor, até o figurinista, todos são estrelas de “primeira grandeza”. O poderoso cinema americano faz esse tipo de coisa até com uma certa freqüência, mas muitas vezes os resultados são bastante medíocres. Não é o caso deste filme de 1987, que já se tornou, por que não dizer, um clássico. É um daqueles casos de “clássico instantâneo” e, como todo filme que enverga esse adjetivo, é difícil escrever alguma coisa sobre ele. São obras que marcam, não só o meio artístico como (e principalmente) o público.

Todavia, como eu disse, é um filme “estelar” e talvez a melhor forma de apresentá-lo seja tecer alguns comentários sobre cada um desses aspectos. Então, vamos a eles:

O roteiro: Escrito por David Mamet, baseado na série de TV homônima, narra a história de Eliot Ness (Kevin Costner), agente do Tesouro Federal americano e sua luta para colocar o mais famoso dos gangsters atrás das grades: Al Capone (Robert de Niro). Para isso, Eliot contará com a ajuda de três “colegas”: Malone (Sean Connery), um velho guarda de rua que Eliot conhece numa noite infeliz; Stone (Andy Garcia), um atirador de elite da polícia e Sam (Charles Martin Smith), um contador que sempre viu a melhor forma de prender Capone, sua sonegação ao Fisco, mas ninguém o leva muito a sério. Pronto! A trama é assim, simples e direta, sem aquelas conspirações, confusões e novelos intermináveis de nomes que geralmente povoam os filmes deste estilo. E essa simplicidade é uma das grandes forças da película, conseguindo envolver completamente o espectador em sua narrativa. E não se faça confusão com roteiro “simplório”, pois ele é extremamente bem amarrado e rico na caracterização dos personagens. Parabéns, Mamet!

O diretor: Brian De Palma faz parte da geração “setentista” a qual, nunca é demais lembrar, revolucionou os padrões de Hollywood na década da “disco music”. Desta geração, talvez De Palma seja o mais preocupado com o aspecto “fotográfico” dos seus filmes. Ele faz parte da vertente que alguns denominam “cinema total”. Nesta vertente, os diretores buscam transmitir o máximo de conteúdo, ações e emoções através da imagem, sempre apta a envolver o espectador com sua plástica, técnica, precisão nos detalhes e expressividade. Um bom exemplo desse tipo de cinema é o clássico “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, do mestre Stanley Kubrick, onde enormes seqüências não possuem qualquer diálogo, sendo que as imagens e a marcante trilha sonora transmitem tudo que o cineasta pretende. Confesso que tenho uma grande simpatia por esse tipo de cinema, pois, pelo menos na minha opinião, trata-se da arte da imagem (sinto-me muitas vezes irritado quando alguns cineastas confundem cinema com teatro). Como reforço à fotografia, De Palma utiliza a edição como um mestre, sendo famosa sua técnica de apresentar duas imagens simultâneas com ações paralelas. Desta forma, o enredo acima descrito é mostrado como um espetáculo visual. Várias são as cenas memoráveis deste filme, como a seqüência em que um dos “intocáveis”... ih, essa eu não posso falar, pois nem todos viram. De qualquer forma, a seqüência mais marcante é aquela do carrinho de bebê (com o bebê) deslizando escadaria abaixo na estação de trem enquanto acontece um tiroteio. Trata-se de uma das mais geniais homenagens já feitas por um diretor a outro, no caso Serguei Eisenstein, o gênio de “O Encouraçado Potenkim”, um dos melhores filmes de todos os tempos. A cena é de aprisionar o olhar, afundar na cadeira e bater palmas depois (e de pé!). Resumindo tudo: De Palma estava mesmo em um momento inspirado!

Elenco: Vamos por partes! Primeiro, Kevin Costner. Interessante como ele era muito melhor quando não era pretensioso. Dá o tom certo ao paladino Eliot Ness, sem excessos. E o personagem, que no início parece muito certinho, maniqueísta até, vai aos poucos mostrando que, ao atingir seu limite, ele não é tão certinho como se supunha. Costner teria uma ascensão vertiginosa em Hollywood, atingindo o ápice em “Dança com Lobos”, para logo depois também experimentar uma decadência tão vertiginosa quanto. Já Sean Connery dá um verdadeiro show como Malone. Cínico e inteligente, ele mostra ao ainda ingênuo Eliot que, para vencer o crime, certas barreiras às vezes têm de ser transpostas, sem significar, contudo, que você passe a ser um corrupto desonesto. Emblemática a cena em que Malone mostra como arrancar confissões de um mafioso sem encostar em um fio de cabelo dele! A atuação rendeu o Oscar de ator coadjuvante ao velho James Bond. Andy Garcia não está brilhante, mas também não compromete com o seu Stone (que tem uma participação decisiva na citada seqüência da escadaria), em um de seus primeiros papéis de destaque no cinema. Charles Martin Smith como o contador está muito bem, mas o que aconteceu com ele depois desse filme (quem souber, favor informar. Parece que participou daquele filme “Querida, encolhi as crianças”, mas não lembro bem)? Fechando o elenco, não podemos esquecer, claro, de Robert De Niro como Al Capone, em mais uma das suas grandes composições. Talvez seja o melhor mafioso depois do Don Corleone de Marlom Brando. Acho até que De Niro iria demorar a se recuperar desta atuação, vez que vejo vários “tiques” de seu Al Capone na sua atuação em “Os Bons Companheiros”, de Scorcese. E é sempre bom vê-lo em boa fase, ao contrário da atual em que ninguém lembra de seus papéis. Coisa mais triste...

Trilha Sonora: Aqui eu sou até suspeito para comentar, porque o responsável pela trilha é Enio Morricone, justamente o meu compositor de trilhas favorito. O que dizer? Bem, mais uma vez seu trabalho é fantástico, não posso usar outro adjetivo. Desde o tema dos créditos inicias até o tema de conclusão, tudo é perfeito. Sem retoques. Mais uma trilha que se pode catalogar como obra-prima, na sua já extensa lista de obras-primas. Vou fazer um aparte aqui, pois talvez alguns não saibam: Morricone é o autor de trilhas memoráveis como a de “Três Homens em Conflito” (além de outros filmes de Sergio Leone). Está lembrando daquele famoso assovio dos filmes westerns? É dele mesmo! Também é o autor da trilha de “Cinema Paradiso”, uma das mais líricas e belas de todos os tempos. Morricone é sensacional!!!

Figurino: Trata-se até de uma curiosidade. Quando estava vendo o filme, já nos créditos iniciais me deparo com o nome de ninguém mais, ninguém menos que Giorgio Armani. Isso mesmo, o homem dos ternos mais bem cortados do mundo. Não que eu seja ligado em moda (sou ligado mesmo é em modelos como a Gisele e a Ana Hickman! Hehhehehehe!), mas não deixei de pensar: “caraca, as roupas são do Giorgio Armani!!!”. E isso me levou a ficar prestando atenção nos ternos que aparecem na tela, para ver o que de tão diferente existe nos modelos de Armani, mas confesso que não vi grande diferença não... Depois até pensei comigo: “ainda bem que eu não entendo tanto de moda assim!”. Hahhahahahahahhahahaha! De qualquer forma, fica o registro para quem tiver curiosidade.

E eis que chegamos à conclusão. E o mais importante, para sintetizar todos estes aspectos, é dizer que “Os Intocáveis” é um senhor filme, daqueles que passam dias na mente de quem assiste. Alguns chegam até a afirmar que é o melhor filme de Brian De Palma. Não sei se é o melhor (“Carrie, A Estranha” também é um filmão, assim como “Vestida para Matar”), mas com certeza é um dos seus grandes momentos. E, indubitavelmente, está entre as melhores realizações da década de 80. Aliás, na capa do DVD encontra-se a frase “O melhor filme de gangster desde ‘O poderoso Chefão’”. Concordo com a capa!

Cotação: ***** (cinco estrelas)

Nota: 10,0

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