sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Queimando o filme


Inauguro aqui uma nova "sessão" para o blog (vamos sair da rotina, né?). Nesta série, comentarei aqueles filmes elogiados ou endeusados pelos críticos, mas que, siceramente, não me agradaram (finalmente vamos de fato botar uma pimenta nessa página). Começo com Borat, um dos queridinhos do ano passado que considero muito tosco. Aguardo os comentários!

Borat

Festival do grotesco (com algumas piadas boas)

Antes de começar a discorrer sobre “Borat”, deixo de antemão um esclarecimento: sou um tanto quanto “difícil” para comédias. Poucas são as comédias que me fazem rir de verdade e vejo o atual quadro da produção cinematográfica neste gênero como extremamente medíocre. Trata-se de um gênero deveras complicado, pois cada pessoa tem um senso de humor próprio, peculiar. É possível que um indivíduo X gargalhe com determinada piada, um indivíduo Y sequer mova um músculo e outro apenas a considere “engraçadinha”. Portanto é admirável o talento de um Woody Allen, cujas comédias agradam a, pelo menos, maioria dos espectadores, ou de um Charles Chaplin, que continua fazendo rir geração a após geração.

Dito isto, quando de sua estréia no Brasil (em fevereiro de 2007) a comédia “Borat”, cujo personagem título já se tornou uma verdadeira referência pop, desembarcou em um grande número de salas tupiniquins com uma aura de sucesso e elogios de boa parte da crítica que o colocou como revolucionário, transgressor, com alguns críticos até denominando de obra-prima. Mas esse adjetivo definitivamente não lhe cabe.

“Borat: o segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão viaja à América” também não possui nada de tão revolucionário. Sua forma é incomum apenas no cinema, pois que na televisão vejo extremas semelhanças com programas como “Casseta & Planeta” e “Pânico na TV”. Trata-se de um semi-documentário em que um jornalista fictício (interpretado por Sacha Baron Cohen) entrevista pessoas reais em situações reais em sua viagem aos Estados Unidos. Nada de muito brilhante, portanto. Não há inovação alguma nisso, nem muito menos genialidade. Apenas o cinema ainda não está habituado a este tipo de linguagem.

Talvez o único grande mérito do filme seja ridicularizar a preconceituosa sociedade americana. Neste ponto, chegamos a ficar chocados ao percebermos que muito daquilo que temos apenas como estereótipos do povo americano se traduz em triste realidade. Os preconceitos contra judeus, árabes, ou qualquer tipo de estrangeiro, estão todos lá. Aliás, o próprio fato das pessoas acreditarem que o comportamento do repórter se deve ao fato de ele ser um estrangeiro vindo de um país que ninguém sabe direito onde fica (o que me fez lembrar imediatamente de um certo quadro do nosso “Casseta”), já demonstra uma arrogância incrível. Em uma das seqüências, uma socialite chega a ensinar Borat a se limpar depois de fazer suas necessidades, chegando a nos fazer crer que, além de arrogante, ela é uma idiota de proporções nunca dantes vistas. O machismo exacerbado também se faz presente em várias passagens, principalmente naquela do trailer, em que Borat conta suas desventuras amorosas (ele é apaixonado por Pamela Anderson) a jovens beberrões estadunidenses. Além disso, sua fotografia precária lembra uma produção caseira ou de baixíssimo custo, dando realmente a sensação de um documentário produzido em algum remoto país pobre.

Olhando por esse prisma, o filme é muito inteligente. Mas, ao mesmo tempo, apela para escatologias extremamente desnecessárias. Afinal, qual a utilidade da controvertida seqüência em que Borat luta, completamente nu, com seu obeso e peludo produtor Azamat (também totalmente nu)? É uma seqüência de um mau gosto tremendo e que passou muito longe de me fazer rir. Pelo contrário. É nítido que o embate entre eles, em cima da cama, quer fazer alusão a diversas variações sexuais (sexo anal, 69 etc.) mas isso simplesmente não é engraçado. Ver dois brucutus peludos em cima de uma cama chega mesmo a incomodar. E o exemplo se estende a outras passagens, na maioria totalmente desnecessárias ao desenvolvimento do roteiro. Se há algo que me faz parar de rir imediatamente é o mau gosto e esse quesito, infelizmente, o filme tem de sobra.

É de se ressaltar, contudo, o esforço de Baron Cohen na construção e interpretação do personagem. Com certeza foi extremamente difícil manter a concentração enquanto dialogava com pessoas que não sabiam que estavam lidando com um ator. Muitas vezes nós mesmos esquecemos desse detalhe e vemos Borat como verdadeiro.

E aqui vai um comentário: algumas pessoas já vieram me perguntar qual o sentido que eu enxergava em tudo aquilo mostrado ao longo da projeção. Outras, que não estavam informadas sobre a estrutura semidocumental do filme, afirmaram que não gostaram e apenas quando eu esclareci que muitas das situações não eram “armadas”, mas espontâneas, vindas de pessoas que não sabiam que lidavam com um ator, passaram a ver a película com melhores olhos. E isso me fez lembrar de algo que meu avô já dizia: uma boa piada não precisa de explicação...

Só mais outra observação: obra-prima é um termo destinado ao que há de mais belo. Não dá para classificar um filme tão “feio” como obra-prima.

No fim das contas: assisitir a Borat é uma experiência diferente, mas isso não significa que você vai gostar do que verá. Como dito acima: cada um com seu senso de humor...


Classificação: **1/2 (duas estrelas e meia)
Nota: 5,0
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