quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Filmes Para Ver Antes de Morrer


Aproveito a estréia do novo 007 para recomendar a todos (mesmo para aqueles que não são fãs ou não são muito chegados em filmes de ação) a aventura anterior do famoso espião. Um clássico instantâneo! Abaixo segue a resenha que escrevi à época de seu lançamento no circuito brasileiro.


007 – Cassino Royale

Senhoras e Senhores: reservem seus lugares no cinema! As cartas estão na mesa!

Quem nunca assistiu a um filme de 007? Ao longo dos últimos quarenta e poucos anos, é bastante difícil encontrar alguém, mesmo com um mínimo de interesse por cinema, que nunca tenha assistido a pelo menos uma das aventuras do agente secreto britânico Bond, James Bond! Sua imagem se tornou um ícone pop, uma referência de masculinidade, o protótipo do macho: inteligente, frio, irônico, boa pinta, conquistador, humor refinado... Além de proteger a Inglaterra e o mundo dos mais inescrupulosos vilões.

Apesar de todo o peso que carrega por, como já disse, se tratar de uma referência pop, o personagem vinha sofrendo um enorme desgaste nos últimos anos. Após uma boa recuperação nos longas “Goldeneye” e “O Amanhã Nunca Morre”, estrelados por Pierce Brosnan, os produtores pareceram perder o controle ao exagerar na dose de parafernália “modernosa” e de situações inverossímeis colocadas no roteiro, até carros invisíveis surgiram (putz!). Assim, se “O Mundo Não é o Bastante” já se mostrou um fracasso, o episódio seguinte, “Um Novo Dia Para Morrer” se tornou um verdadeiro desastre, quase matando a franquia.

Mostrou-se, portanto, premente a necessidade de realizar uma renovação do personagem, adequando-o aos novos tempos. A guerra fria acabou. Ademais, a idéia de vilões megalomaníacos com vontade de dominar ou destruir o mundo já soa bastante absurda e também datada.

Os produtores tiveram, então, uma feliz iniciativa. Decidiram “zerar” a série, algo semelhante ao que foi feito com o personagem do Homem Morcego em Batman Begins. O personagem de Bond poderia, além disso, ser mostrado de uma forma mais fria, seca e direta, fazendo jus aos dois zeros que o identificam e que significam “permissão para matar”. Nos dias de hoje, o público já aceita a idéia de um herói valer-se de métodos violentos para atingir seus objetivos, vez que a agressividade muitas vezes se torna elemento de sobrevivência em um mundo tão individualista e frio.

E é sob esta nova perspectiva que nos é apresentado “Cassino Royale”, o 21º longa metragem do agente 007. Desde o início da projeção já notamos algumas diferenças. Com a imagem em preto e branco, vemos Bond assassinando friamente dois homens, feitos que o levariam, como mostrado logo após a seqüência de créditos, a adquirir o status de “00”. Até mesmo o famoso tiro em direção ao espectador, presente em todos os seus filmes, aparece renovado aqui (quem assistir perceberá de imediato a diferença). E mais: a referida seqüência de créditos mostra-se ainda inovadora. Foram-se as silhuetas de belas mulheres nuas ou seminuas e entraram animações do agente lutando contra inimigos cercados por elementos de jogos de cartas (ases, valetes, paus, damas etc.), bem de acordo com o desenvolvimento da trama (de altíssima qualidade esses créditos, com canção de Chris Cornell).

O filme, uma adaptação do primeiro romance de Ian Fleming com o personagem, dirigido por Martin Campbell (o mesmo de Goldeneye) narra toda a inexperiência, arrogância e inconseqüência de Bond (Daniel Craig) quando novato, características que o levam a cometer vários erros, os quais acabam servindo de fio condutor para a trama. Seu comportamento impulsivo deixa de cabelos em pé sua chefe, M (Jude Dench). E esse ainda inexperiente Bond terá de enfrentar um vilão adequado aos novos tempos: Le Chiffre (muito bem interpretado, sem tiques, pelo dinamarquês Mads Mikkelsen), um financiador do terrorismo e de grupos paramilitares ao redor do mundo. Um vilão sem ideologias ou convicções a defender, diga-se de passagem, tendo como único objetivo ganhar dinheiro (vale aqui mencionar que isso é metáfora direta do grande vilão dos dias atuais: o capital despersonalizado, sem pátria, aliado a indivíduos inescrupulosos).

A forma encontrada pelo serviço secreto britânico para desarticular a quadrilha seria Bond vencer Le Chiffre em um jogo de pôquer em Cassino Royale, casa de jogos que dá o título à produção. E o dinheiro que Bond necessitará será fornecido por Vesper Lynd, uma belíssima contadora do governo interpretada pela Deusa (assim mesmo, com letra maiúscula) Eva Green. Aqui cabe um aparte: a renovação da franquia foi tão abrangente que não se restringiu apenas à trama, mas até mesmo às Bond Gilrs. Se Caterina Murino ainda lembra o velho estilo, surgindo de biquíni montada em um cavalo (Aaaaaahhh, Caterina...), Eva Green imprime uma total renovação ao conceito das amantes de Bond. Culta, inteligente, dona de uma sensualidade diferenciada, invulgar, com uma beleza profunda que parece diferenciá-la dos demais simples mortais, Vesper Lynd está longe, muito longe, de ser apenas um corpo esguio, com uma bunda proeminente ou seios fartos. Ao mesmo tempo lindíssima e de personalidade forte, logo compreendemos porque Bond deixaria todas as outras mulheres para ter apenas Vesper. Os diálogos entre os dois são ótimos e muito mais interessantes do que outros que rolam em vários filmes românticos por aí. Aliás, o filme tem uma das cenas mais bonitas que já vi em filmes de ação, disputando lugar até com outras de filmes direcionados aos apaixonados (não quero contar para não perder a graça, mas acho que todos perceberão qual é ao assistirem).

Mas todo esse processo de amadurecimento dos personagens e das tramas é acompanhado por um detalhe muito importante em filmes de 007: ação vertiginosa!!!!! Em nenhum momento o roteiro (um dos autores é Paul Haggis, de “Crash” e “Menina de Ouro”) perde o ritmo. E detalhe: um dos pontos altos é o jogo de pôquer no Cassino Royale. Alguns críticos andam dizendo por aí que quem não entende de cartas pode se sentir entediado. Que bobagem! Eu mesmo, confesso, não entendo nada de baralho e fiquei totalmente vidrado nas seqüências de jogo. E a primeira grande seqüência de ação da produção, em que Bond persegue um traficante de armas em Madagascar, é brilhante. Uma perseguição a pé muito superior a qualquer racha automobilístico que se vê em outros filmes. Ah, existe ainda uma cena de tortura que vai fazer todo mundo se remexer na cadeira (ou melhor, as meninas nem tanto), além de, por mais paradoxal que possa parecer, gerar boas gargalhadas.

E, por fim, uma última questão deve ser abordada: Daniel Craig. Muitos questionaram sua escolha. Não era possível que escolhessem um Bond loiro e, ainda por cima, feio. Mas é necessário dar a mão à palmatória: o cara arrebenta. Criou um 007 que reúne características de vários outros e, ao mesmo tempo, surge totalmente novo. Um Bond frio, irônico, mas que ao mesmo tempo, sabe demonstrar seus sentimentos quando necessário. Só achei “bombado” demais, mas isso é de menor importância. No fim, saí com a sensação de que Craig é o melhor James Bond desde Sean Connery. Os produtores foram felizes na decisão e os críticos queimaram a língua.

Cassino Royale, desta forma, dá uma grande e bem-vinda repaginada na franquia. Deverá, sem dúvida alguma, conquistar novos fãs para a série, além de reaproximar os antigos. Ah, se todos os filmes blockbusters seguissem sempre este padrão qualidade... Vida longa ao novo 007 e que venha o próximo (segundo algumas informações que circulam pela net, ele já está previsto para novembro de 2008). Vale à pena conferir, mesmo para os que não são fãs da série.

Resenha escrita por Carmo. Fábio Carmo.

Cotação: ***** (cinco estrelas).
Nota: 10,00.
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2 comentários:

Anônimo disse...

e aí Fábio 100% (kkk)

apenas pra registrar que tenho acompanhado as atualizações do blog.. por sinal, você tá de parabéns!

abraço,

Fábio Henrique Carmo disse...

Obrigado por prestigiar esse trabalho, Iury. Infelizmente, sou um ex-100%...

De qualquer forma, um grande abraço! E volte sempre!