segunda-feira, 30 de março de 2009

Maurice Jarre: 1924 - 2009



Talvez você nunca tenha ouvido falar neste nome, mas com certeza já ouviu pelo menos uma de suas composições. Afinal, é extremamente difícil encontrar alguém que não tenha escutado o famoso "Tema de Lara", a belíssima música da personagem intepretada por Julie Christie em "Dr. Jivago", uma das magistrais e mais belas obras de David Lean (e de todo o cinema). Maurice Jarre faleceu no último domingo, aos 84 anos, consagrado como um dos maiores autores de trilhas cinematográficas. Vencedor de 3 Oscars (por seus trabalhos em "Lawrence da Arábia", o citado "Dr. Jivago" e "Passagem Para a Índia"), 4 Globos de Ouro e vários Grammy, Jarre é um daqueles artistas que superaram a mortalidade. Ah, e ele era pai do Jean-Michel Jarre. Abaixo, segue o famoso tema que emocionou gerações.


Richard Clayderman - Tema de Lara

domingo, 29 de março de 2009

Um Táxi Para A Escuridão

Democracia totalitária

Todos nós temos conhecimento das atrocidades cometidas por regimes totalitários ao longo dos séculos, principalmente no século XX, o mais sangrento da História. Regimes como o Nazismo, Fascismo e Stalinismo (para não citar outros menos “famosos” como a ditadura militar brasileira) foram responsáveis por imensas barbaridades, atos de extrema afronta aos mais elementares direitos humanos, às mais básicas garantias individuais. O fato, entretanto, é que sempre costumamos associar tais atrocidades a regimes de exceção, sejam de “direita” ou de “esquerda”. Dificilmente relacionamos estes crimes atrozes a governos eleitos democraticamente, em Estados que afirmam primar pelas liberdades e garantias individuais dos cidadãos. Pois bem, documentários como “Um Táxi Para A Escuridão” possuem justamente como maior virtude nos lembrar que o desrespeito aos mais elementares direitos humanos pode ser empreendido também pelas democracias ocidentais e, mais ainda, justamente por aquela nação que sempre se coloca como maior “defensora da liberdade”: os Estados Unidos da América.

Dirigido de forma magnífica por Alex Gibney, “Taxi To The Dark Side” (título original em inglês), vencedor do Oscar 2008 como melhor documentário, investiga o sequestro e morte de Dilawar, um afegão que transportava viajantes na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Levado à prisão de Bagram sem qualquer indício ou prova de um possível envolvimento com grupos terroristas, Dilawar foi torturado até a morte por militares norte-americanos. Entretanto, talvez, apesar de todo o choque que uma ação como essa sempre traz, a maior indignação não decorre das atitudes de militares sem caráter, mas do próprio Estado americano que, sob a administração Bush, deu todo o respaldo para expedientes espúrios como esse. “Eles irão conhecer a justiça americana”, diz George W. Bush em um dos seus nada saudosos discursos. Nada mais irônico. E é espantoso como, a cada sequência percebemos a desfaçatez do governo em relegar a um segundo plano todos os princípios que, em tese, constituem os postulados essenciais da nação americana.

Levando a fundo sua investigação, Gibney colhe depoimentos até mesmo dos militares que foram responsabilizados pelas torturas que levaram Dilawar à morte, em sua maioria peixes pequenos e que pareceram pecar mais pela omissão do que pela ação no caso estudado (é sempre uma virtude de um documentarista mostrar diversas perspectivas sobre o tema). Mesmo que na forma o documentário se mostre tradicional, a verdade é que ficamos cada vez mais estupefatos com a leniência dos superiores em relação aos abusos praticados nas prisões norte-americanas destinadas aos “terroristas”.Abusos estes que, é bom dizer, não deixam em nada a dever aos piores procedimentos nazistas. Privação de sono, espancamentos, suspensões por correntes, privação dos sentidos, mutilações são algumas das práticas narradas e, como vemos, muitas vezes até estimuladas por autoridades militares. Dilawar, segundo uma médica que realizou sua necropsia, foi encontrado com as pernas dilaceradas, “como se um caminhão tivesse passado por cima delas”.

Mas Gibney não se limita a investigar o caso de Dilawar. Tem a perfeita consciência de que o problema tornou-se generalizado nas prisões que os EUA mantêm em território estrangeiro, mostrando ao espectador todos os horrores perpetrados em Abu Ghraib e quase impunidade que a ela se seguiu, bem como as denúncias sobre a base militar de Guantânamo (esta, por sinal, em processo de desativação pelo governo Barack Obama). Tudo isso sem jamais parecer panfletário, como sempre acabam parecendo as produções de Michael Moore (que têm sua relevância, é bom dizer, apesar da críticas que se podem fazer a elas).

Esta semana, Barack Obama anunciou que enviará mais 4 mil soldados para o Afeganistão, em sua ótica o verdadeiro celeiro de terroristas e onde as forças americanas devem concentrar suas ações. Esperemos que estes soldados realmente cumpram seu papel de combate ao terrorismo e não reproduzam o “modus operandi” que reinou no mandato do último presidente republicano. Como diz um dos entrevistados no longa, “a luta não é apenas por vidas, mas pela defesa dos nossos princípios”. Princípios estes que devem ser defendidos em todos o países que se consideram democráticos. E, possivelmente, pior do que um regime arbitrário talvez seja um regime totalitário travestido de “democrático”.

Cotação: ***** (cinco estrelas)
Nota: 10,0

Obs. O pôster ao lado foi proibido nos EUA pela Motion Picture Association of América, órgão responsável pela classificação etária no país, porque mostra a sombra de um prisioneiro ao lado de dois soldados formando a bandeira norte-americana. Mais uma contradição da “terra da liberdade”.

sábado, 28 de março de 2009

Musas do Escurinho #1

Como, além de um grande apreciador da sétima arte, eu também sou um grande apreciador de suas belas atrizes, resolvi inaugurar esta nova série. Afinal, um bom colírio sempre faz bem aos olhos. No post de estreia, a inesquecível princesa de Mônaco: Grace Kelly! Dá para acreditar que essa mulher existia?



quinta-feira, 26 de março de 2009

Pixar: sempre "up"


E a Pixar, sempre ela, conseguiu mais uma proeza. A sua mais nova produção, a animação "Up - Altas Aventuras", irá abrir a 62ª edição do Festival de Cannes (a ebertura está maracada para 13 de maio). É a primeira vez que um longa animado será o responsável pela abertura do mais prestigioso festival de cinema do mundo. A trama (que parece bem divertida) trata das aventuras de Carl Fredricksen, um senhor já nos seus 78 anos, vendedor de balões, que busca agora realizar o grande sonho de sua vida: voar em sua própria casa, presa a um sem número de balões, até as florestas da América do Sul. Só não contava com a participação clandestina de um escoteiro de 8 anos, que alça voo com Carl por acaso. No Brasil, o longa tem estreia prevista para 4 de setembro. Já de antemão podemos perceber que a Pixar pretende abordar a relação entre jovens e idosos, bem como mostrar que não existe idade para realizar seus sonhos. Provavelmente mais um sucesso de público e crítica. Vamos aguardar.

Também em Cannes, que neste ano terá seu júri presidido pela atriz francesa Isabelle Huppert, teremos a premiação de Clint Eastwood pelo conjunto de sua carreira. Nada mais justo!

domingo, 22 de março de 2009

Gran Torino

Durão, mas com ternura

Poucos diretores sabem analisar tão bem a sociedade americana quanto Clint Eastwood, o septuagenário ator e diretor, um dos grandes ícones da história do cinema. Dono de um estilo clássico que remete a mestres como John Ford, Eastwood, ao longo das duas últimas décadas, vem nos brindando com filmes cheios de profundidade e sensibilidade, na mesma proporção em que simples e diretos. Mesmo obras menores suas, como o recente “A Troca”, mostra-se bastante acima da média das produções norte-americanas corriqueiras, sempre tendo algo de relevante a dizer.

Além de talentoso, ele se mostra um cineasta bastante prolífico, chegando a lançar dois longas-metragens em apenas um ano (principalmente se levarmos em conta que Clint já é quase um octogenário). Em 2009, ele nos entregou não apenas o acima citado filme protagonizado por Angelina Jolie, como também este “Gran Torino”, o qual acabou se transformando no seu maior sucesso de bilheteria como diretor. Tal sucesso não me surpreende. O longa é perfeitamente antenado com os novos tempos da era Barack Obama, o que me leva até a realizar um sério questionamento do porquê a Academia ter ignorado por completo esta produção no Oscar deste ano, sequer recebendo indicações. Será que Hollywood acredita que já premiou demais o velho cowboy? À parte esses questionamentos desnecessários (afinal, nenhum filme se tornará melhor ou pior pelo fato de ter recebido uma estatueta), “Gran Torino” mostra Eastwood em grande forma, não apenas no aspecto narrativo, mas também na abordagem condensada de vários de seus antigos temas. Estão lá a incomunicabilidade, os questionamentos à religião, a crença na resolução de conflitos dentro das regras do sistema, o peso de atos pretéritos sobre a consciência, a velhice e aproximação da morte.

A trama nos mostra o veterano da guerra da Coréia Walt Kowalski (o próprio Eastwood) lidando com a perda recente de sua esposa. Desde o início, já percebemos o distanciamento da relação entre ele e seus filhos (e netos também), os quais não têm paciência com seu temperamento difícil e ranzinza. Walt, ademais, é o arquétipo do americano tradicionalista. Todos os dias asteia a bandeira estadunidense na porta de sua casa, onde agora vive sozinho, acompanhado apenas de sua cadela Daisy. Xenófobo, é forçado a conviver com uma vizinhança repleta de imigrantes, a maioria deles da etnia asiática hmong, com hábitos e costumes totalmente estranhos aos seus olhos. A antipatia de Kowalski também é retribuída pelos seus vizinhos. A situação começa a mudar quando Thao, um jovem e tímido vizinho hmong, tenta furtar o Gran Torino ano 1972 de Walt, automóvel que este mantém conservado com perfeito zelo (adoração por carros: outro aspecto notório do americano médio). O furto, entretanto, seria o ritual de iniciação de Thao em uma gangue local e, uma vez frustrado, deixa o rapaz em apuros perante o grupo de deliquentes. É Walt que o salva da situação (mesmo que não desejasse exatamente isso), sendo logo transformado em herói e visto como protetor do bairro.

Apesar da retomada dos diversos temas já referidos mais acima, a preocupação central de Eastwood, como já é possível depreender a partir desta breve síntese, é a relação do homem americano (e, por consequência, dos Estados Unidos) com o elemento estrangeiro, e a forma como esta relação deve ser estabelecida. Inicialmente isolado e avesso ao contato com os vizinhos imigrantes, Walt aproxima-se e passa a travar uma estreita relação com estes. E é interessante que esta relação se desenvolve a partir do momento em que Kowaslki se torna uma espécie de “xerife” da vizinhança, função simbolizada principalmente pelo rifle que aponta para os delinqüentes do bairro. Isso demonstraria que Clint ainda acredita na função dos EUA como guardiões da ordem mundial? Nem tanto. O ponto que o diretor parece atingir é o mesmo proposto pela população norte-americana com a eleição de Barack Obama, ou seja, o distanciar-se de visões genéricas e estereotipadas sobre o estrangeiro, evitando percepções maniqueístas da realidade. A defesa dos valores norteadores da sociedade americana precisa, antes de tudo, enxergar que o estrangeiro não é uma ameaça. A ameaça, segundo o olhar de Clint, parece ser o esquecimento destes mesmos valores, o seu rápido processo de desmoronamento. Nada mais emblemático desta visão do que o momento em que Walt olha para um grupo de jovens que faz gestos obscenos para uma senhora, ao invés de ajudá-la a juntar as compras que haviam se esparramado pelo chão. Ou ainda quando ele chega à constatação de que parece ter mais em comum com seus vizinhos hmong do que com seus próprios filhos. Aliado a isso, vemos que Eastwood, tomando por base o desfecho da trama, continua acreditando que o sistema, apesar de suas falhas, está apto a dirimir os conflitos sociais, não cabendo ao cidadão agir individualmente e fazer justiça com as próprias mãos.

Por outro lado, mais uma vez se torna nítida a facilidade do diretor em estabelecer relações perfeitamente críveis de aproximação entre personagens. Esse elemento já havia sido utilizado de forma belíssima em “Menina de Ouro” (entre o treinador Frank e sua aluna Maggie) e agora é novamente abordado na relação entre Walt e Thao. Talvez não se mostre tão especial quanto no longa citado porque Bee Vang não é uma Hillary Swank, deixando a desejar em alguns momentos que exigem uma maior carga de interpretação. A direção oscilante de atores costuma, inclusive, ser apontada como uma das falhas frequentes do trabalho de Eastwood na direção. Mas, pelo menos aqui, não é nada que chegue a comprometer o conjunto, até mesmo porque o próprio Clint está ótimo na sua interpretação de Kowalski, apresentando um personagem que parece ser uma síntese de todos os outros já encarnados pelo ator.

Ademais, é sempre interessante notar como ele consegue tratar de questões mais amplas a partir de planos mais estreitos e pessoais, e por que não dizer, emocionais. Para Eastwood o macro sempre passa antes pelo micro, o social é resultado do individual. Só os grandes artistas possuem essa perspectiva. Sem astear bandeiras, Clint nos leva à reflexão sem nunca esquecer que somos humanos, seres dotados de emoção. Duro, sim, mas sem jamais perder a ternura.


Cotação: ****1/2 (quatro estrelas e meia)
Nota: 9,5

quarta-feira, 18 de março de 2009

Um breve pensamento sobre o tempo


Depois de assistir a "Watchmen" reli algumas passagens da HQ, especialmente o diálogo entre o Dr. Manhattan e Laurie, em Marte. Em dado momento, Jon fala: "não existe futuro, não existe passado. Percebe? O tempo é simultâneo(...)"

Sempre considerei esse conceito como extremamente reconfortante. É ótima a ideia de que o passado está sempre acontecendo, levando a imaginar que os melhores momentos da sua vida estão acontecendo de novo, agora. Eternamente, estes episódios estarão registrados na linha do tempo. O que me faz lembrar de uma frase de Renato Russo: "os nossos dias serão para sempre". É verdade. Por mais que os dias prossigam na sua marcha, eles estarão cristalizados, nada mais poderá alterá-los.

Sei que estou divagando, mas, nos últimos dias, ando um tanto nostálgico...

P.S. Se você ainda não leu Watchmen, recomendo fazê-lo o quanto antes. É uma das melhores leituras que você terá na vida. Ah, e eu não estou tendo um ataque "nerd" ao dizer isso.

domingo, 15 de março de 2009

Watchmen - O Filme


Pronto: segue abaixo a resenha de "Watcmen - O Filme".

Eletrocardiograma


“Watchmen”, sem dúvida, é um triunfo da hoje denominada “nona arte”. Lançada em 1986 pela DC Comics, a obra concebida por Alan Moore e com traços de Dave Gibbons provocou, juntamente com “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller, uma revolução no gênero de super-heróis. Sua repercussão e influência foram tão grandes que a revista Time colocou a obra de Moore-Gibbons entre os romances mais importantes desde o ano da criação da revista (em 1923). Vencedora de inúmeros prêmios, entre eles o mais importante do gênero quadrinhos, o Eisner Awards, tornou-se lugar-comum designá-la como “a graphic novel mais aclamada de todos os tempos”, bordão que inclusive foi utilizado na campanha promocional deste “Watchmen – O Filme”.

Há anos os estúdios de Hollywood pretendiam realizar a transposição da HQ para o cinema, empreitada que se mostrava bastante temerosa pela própria essência da trama concebida por Moore. Este pretendeu, com “Watchmen”, desmistificar a concepção de super-heróis, mostrando-os como seres humanos comuns, destituídos de poderes especiais (à exceção do Dr. Manhattan, claro), cheios de problemas, frustrações e até falhas de caráter como todos os seres humanos. Ademais, seus personagens mostravam-se extremamente bem construídos, densos, dotados não apenas de um presente, mas de toda uma história de vida, tornando-os tridimensionais. Não que neste aspecto isso fosse realmente original. A diferença está no fato de que não foram os momentos traumáticos da vida destes personagens que os levaram a viver como combatentes do crime, ou pelo menos não diretamente (como no exemplo clássico das HQs em Batman, o qual se torna um vigilante por conta do assassinato dos seus pais). É bom até mesmo dizer que um dos “heróis” de “Watchmen” está mais para um psicopata (Rorschach), enquanto outro é completamente destituído de moral (o Comediante). Como levar isso para um público totalmente acostumado com outra ideia de super-heróis, lotando salas para ver as proezas de personagens como Homem-Aranha e Super- Homem? Bom dizer que uma adaptação convincente exigiria não só um bom roteiro, mas também um investimento no melhor padrão “blockbuster”, capaz de tornar crível uma figura como a do Dr.Manhattan, por exemplo.

Depois do sucesso absoluto de “Batman – The Dark Knight”, a Warner tomou coragem e resolveu investir em mais essa adaptação de HQ soturna e, depois de uma enorme pendenga judicial com a Fox pelos direitos sobre a adaptação, tivemos o lançamento do filme no último dia 06 de março, alcançando o topo das bilheterias nos EUA, muito embora numa escala menor do que a esperada.

Devo dizer, até como um “iniciado” na obra original, que os primeiros minutos do longa-metragem realmente empolgam. O diretor Zack Snyder (o mesmo de “300”, outra adaptação de HQ) sabe como criar imagens elegantes e cheias de estilo e isso aparece logo na primeira sequência, que mostra a morte de Edward Blake, o Comediante. Snyder soube ainda utilizar, de forma marcante, músicas de grande apelo pop, pescando o espectador logo de início. Também é verdade, é bom lembrar, que basta jogar alguma música de Bob Dylan na projeção para que qualquer filme ganhe de imediato um tom cabeça-bom-gosto. Aqui, isso acontece nos créditos iniciais, com “The Times They Are A-Changin’” e confesso que comecei a ficar empolgado nesta sequência (muito bem elaborada). Entretanto, os minutos foram passando e comecei a me questionar se o espectador médio, que não tivesse lido anteriormente a matriz, estaria entendendo o que estava se passando na tela. E é nesse ponto que o filme de Snyder começa a padecer de problemas.

A impressão que ficou é que esse objetivo não é atingido. A própria trama concebida por Moore já se mostra enigmática nos quadrinhos. Só no fim vemos tudo fazer sentido, todas as peças se encaixarem. E condensar isso no cinema não se mostrou uma das melhores experiências, mesmo que sejam cerca de 2h40min. de projeção. Vários momentos se mostram rápidos demais, dificultando o entendimento da trama. Além disso, a necessidade de se apresentar vários personagens com o tempo cronometrado acaba tirando a força deles, alguns mais do que outros. Creio que a que mais sofreu foi a personagem de Laurie (a Espectral), cuja relação com Jon (o Dr.Manhattan) foi mostrada de maneira superficial, assim como sua aproximação com Daniel Dreiberg (o Coruja) soa fútil e apressada. Aliás, apressado mostra-se todo o desenvolvimento do roteiro a partir da metade da projeção, quando os fatos vão se sucedendo sem pausas para reflexão. Até um dos melhores momentos da graphic novel, o diálogo excepcional entre Laurie e Jon em Marte, acaba rasteiro e cheio de buracos, sendo impossível que o espectador não iniciado compreenda a real dimensão do texto.

A empatia e vinculação com os personagens também sofre devido ao fator interpretação. Se Billy Crudup interpreta o Dr. Manhattan de forma eficiente, assim como Jackie Earle Haley no papel de Rorscharch e Jeffrey Dean Morgan como o Comediante (este realmente ótimo, na minha opinião o melhor do longa), alguns outros mostram-se bastante fracos, como Matthew Goode, que faz um Ozymandias por demais afetado, e Patrick Wilson, um tanto inexpressivo como o Coruja. Contudo, a Espectral acabou não sendo apenas a mais sacrificada pelo roteiro, mas também pela sua intérprete, Malin Akerman, quase uma boneca de tão inexpressiva (na mesma proporção em que é linda e saborosa).

Vale dizer também que o longa acaba por cair na necessidade de agradar o público do cinemão americano. Snyder (que de “visionário” não tem nada), relembra os seus tiques de “300”, apresentando cenas de ação em que a imagem acelera para logo em seguida aderir ao slow motion e pouco depois apertar na tecla “FF” novamente. Há ainda momentos de ação que se mostram bem mais plásticos e exagerados que nos quadrinhos. Nesse caso em especial, tal recurso mostra-se bastante equivocado, já que, como já ressaltado mais acima, uma das premissas de Watchmen é a de que aquelas pessoas são normais e não super-seres dotados de habilidades sobre-humanas.

Mas também é verdade que não só Snyder como os produtores ousaram em não eliminar do filme as cenas de extrema violência presentes na HQ, bem como algumas cenas de sexo (uma delas foi até bastante amplificada no filme, o que nos permite termos uma visão completa do corpo delicioso de Malin Akerman). Até mesmo o Dr.Manhattan é mostrado em nu frontal, como no original. Uma atitude corajosa dos envolvidos no projeto, mas que acabou por jogar uma tarja de classificação “PG-17” nos EUA (no Brasil, o filme também ganhou classificação etária máxima: 18 anos), o que também acabou contribuindo para que a bilheteria não rendesse tanto quanto desejado. Os efeitos especiais também são louváveis, principalmente aqueles aplicados na figura do Dr. Manhattan, dando-lhe uma veracidade bastante interessante.

Devo reconhecer, no fim das contas, que o esforço foi louvável. Mas a verdade é que “Watchmen” é uma obra que não comporta uma adaptação dentro de um formato tão comercial. Para que tudo fosse levado de forma realmente satisfatória, sua duração teria de ser pelo menos de umas 4h, além de abdicar ainda mais de elementos do cinema-pipoca. O final, um tanto alterado em relação à HQ, é mais um reflexo disso (muito embora não tenha ficado ruim). E a sensação que ficou ao sair da sessão foi a de ter assistido a um filme no melhor estilo eletrocardiograma: cheio de altos e baixos. E ainda saí com a pergunta na cabeça: “será que essas pessoas aí na sala entenderam o filme ou estão frustradas?”. Bem, se você nunca leu a HQ e pretende assistir (ou já tenha assistido) ao filme, favor postar nos comentários a sua impressão.

Cotação: *** (três estrelas)
Nota: 7,5

quarta-feira, 11 de março de 2009

Sobre Watchmen

Eu ainda não vi "Watchmen". Sim, sei que é estranho para um fã de cinema e também de HQs. Mas a verdade é que a adaptação desta obra de Alan Moore para os cinemas nunca me empolgou. Não porque não goste dos quadrinhos, muito pelo contrário. O problema é que sempre vi Watchmen como uma obra de difícil adaptação para o cinema, até mesmo porque uma boa adaptação exigiria um padrão de custo de blockbuster (e foi o que aconteceu), mas dificilmente conseguiria retorno nas bilheterias (ademais, eu não sou lá muito fã de Snyder, que vejo como um diretor sem muita personalidade). O público que costuma assistir a filmes de super-heróis nos cinemas, à exceção dos "iniciados", dificilmente irá entender a proposta da trama. Não é à toa que há relatos de parte da plateia abandonando as salas bem antes do fim (o filme, além de tudo, é bem longo). E agora vejo a notícia de que o longa rendeu abaixo do esperado nas bilheterias USA, mesmo liderando o fim de semana com US$ 55 milhões. Uma boa renda, sem dúvida. Entretanto, deve cair bastante nas próximas semanas, pois o boca-a-boca não deve lhe favorecer. A teimosia venceu e a decepção será grande para os estúdios.

De qualquer forma, pretendo vê-lo neste próximo fim de semana e, claro, postar a resenha aqui.

domingo, 8 de março de 2009

Quem Quer Ser Um Milionário?


E a resposta certa é...

A seguir, uma série de perguntas e respostas sobre “Quem Quer Ser Um Milionário?”, filme que papou 8 Oscars e teve sua estreia nacional nesta última sexta-feira, 06 de março.

1 ª Pergunta: sobre o que é o filme?

Reposta: O longa de Danny Boyle mostra as peripécias de Jamal, um garoto saído dos favelões de Mumbai que acaba obtendo grande êxito na versão indiana do programa que ficou conhecido no Brasil como “Show do Milhão”. Quando está para faturar as 20 milhões de rúpias (prêmio máximo), ele é levado a uma sessão de torturas a fim de explicar como um favelado pode ter respondido corretamente a todas as questões. Ah, ele é também apaixonado por Latika, garota também egressa das favelas e que acredita ser o seu destino.

2ª Pergunta: essa trama é bem desenvolvida?

Reposta: se você quer saber se o filme é daqueles que envolvem o espectador, capaz de emocionar as plateias, fazer os namorados saírem abraçadinhos da sala de cinema, a resposta é sim. Danny Boyle volta a conduzir um longa de maneira frenética e estilosa, prendendo todos com uma narrativa fluida e cheia de sequências visualmente bem elaboradas. Mas também estão presentes algumas cenas de gosto bastante duvidoso, além de dispensáveis, como o mergulho de um garoto em um charco de fezes apenas para conseguir um autógrafo de um astro de Bollywood. Boyle, por sinal, parece ter uma obsessão por cocô (lembram de “Trainspotting”?).

3ª Pergunta: então o roteiro dever ser ótimo, não?

Resposta: É muito bem amarrado, cheio de elementos de “recompensa” para o espectador (foi escrito por Simon Beaufoy). O que não significa que seu texto seja rico. Há várias frases feitas ao longo de toda a trama, típicas de entretenimentos adolescentes como “Malhação” ou “High School Musical”. Aliás, coisas como “você é o meu destino” ou “vamos viver de amor” (por mais que características de um romance adolescente) parecem saídas de novelas de Glória Perez (será que ela adivinhou que esse filme iria fazer sucesso e assim começou a escrever sua novela “Caminho das Índias”?). O romance, já percebemos desde o início, está fadado a cumprir “seu destino”, numa previsibilidade atordoante.

4ª Pergunta: é verdade que o filme, como os críticos andam dizendo, tem muito de “Cidade de Deus”?

Resposta: Bem, a estética e o ritmo lembram bastante o filme de Fernando Meirelles, é fato. Além disso, ao mostrar a trajetória de Jamal, Boyle coloca um subtexto social em que explicita vários aspectos da realidade indiana, muito embora de forma superficial, sendo exemplos disso os conflitos religiosos, a situação de extrema pobreza da maior parte da população (as favelas mostradas no filme fazem as brasileiras serem vistas até como “desenvolvidas”) e a violência reinante (não muito diferente da brasileira). Todavia, se em “Cidade de Deus” esse é o tema central, em “Quem Quer Ser Um Milionário?” isso é apenas circunstancial, sendo basicamente um pano de fundo. E essa “realidade” mostrada é vista sob uma ótica de colonizador sobre colonizado, uma espécie de safári sociológico (é bom lembrar que o diretor, bem como a maior parte das fontes de financiamento, são britânicos), onde leões e leopardos são substituídos pelas crianças miseráveis da Índia.

5ª Pergunta: E os aspectos técnicos?

Resposta: São realmente muito bons. Fotografia, som e, principalmente, a edição são excelentes (este último item é outro aspecto que lembra muito “Cidade de Deus”). Neste ponto, ele fez realmente valer os prêmios que recebeu.

6ª Pergunta: o filme é manipulador e maniqueísta, como também a crítica brasileira anda alardeando?

Reposta: É manipulador, muito embora isso não possa sempre ser considerado como um defeito. Steven Spielberg, por exemplo, é mestre em manipulações e conseguiu produzir obras-primas cinematográficas dentro desta cartilha (desde “E.T.” a “A Lista de Schindler”). Existem inúmeros artifícios no filme para fazer o público se emocionar. Aliás, a própria ideia de uma história de “criancinhas sofridas” já induz a isso (esquema que também costuma agradar a Academia). Os personagens parecem saídos de um livro de Charles Dickens, só que em patamares ainda mais exacerbados de sofrimento e redenção. Também se mostra bastante maniqueísta. O vilão-apresentador parece saído de um conto infantil, sendo que a própria ideia da tortura para que Jamal revele os seus “segredos” já se mostra até um tanto “trash”. Ao longo de toda a narrativa, é bom lembrar, as crianças sofrem feito elefantes perseguidos na savana. Uma autêntica via crucis com verniz pop.

7ª Pergunta: os atores são competentes?

Reposta: Sim, a maior parte do elenco tem méritos. Dev Patel, que interpreta Jamal nos seus 18 anos é competente e carismático, assim como Anil Kapoor (astro de Bollywood), o apresentador do programa, desempenha muito bem seu papel. Já Freida Pinto, a intérprete de Latika, é linda e desejável, mas funciona mais como um enfeite cênico, além de ser o objetivo de vida de Jamal, claro. Contudo, o que mais me chamou a atenção foi o grupo de atores mirins recrutados pela produção nas favelas da própria Mumbai. Eles são ótimos e foram até recebidos com festa na Índia depois da cerimônia do Oscar.

8ª Pergunta: o filme mereceu as oito estatuetas que levou pra casa?

Resposta: nesse quesito, dá para afirmar que 8 Oscars me pareceram um certo exagero. Alguns afirmam que a Academia quis premiar “Milionário” pelo fato de ter esquecido “Cidade de Deus”, uma das obras mais influentes da década, em outra oportunidade. Pode haver verdade nessa afirmação, mas com certeza há mais verdade ainda no fato de Hollywood, nestes tempos de abertura da era Barack Obama e, principalmente, de grave crise econômica, estar buscando se aproximar de outras culturas e mercados. Ela já percebeu que boa parte de sua receita hoje está vindo do “resto do mundo” e a tendência só deve crescer, diante da recessão nos EUA. Nada melhor que se aliar aos emergentes para não imergir.

9ª Pergunta: agora, finalmente, responda: o filme é bom ou não?

Resposta: vou responder com as alternativas que seguem abaixo:

a) um filme empolgante, de grudar o espectador na cadeira;

b) uma merda estilizada por Danny Boyle;

c) um conto de fadas adolescente, com direito a número estilo “High School Musical” no final;

d) tudo isso junto.

A resposta certa é... Bem, assista ao filme e escolha sua opção. Creio que a minha talvez seja a letra “d” (creio que realmente há um pouco de cada alternativa no longa), mas... Acho que vou pedir ajuda aos universitários, a um amigo ou, talvez, para as cartas! Pena que acertar a resposta, nesse caso, não me fará um milionário...

Cotação e nota: Sei lá! Eu nem soube responder à pergunta...!!!



sexta-feira, 6 de março de 2009

Danny Boyle em 007?

Esta semana correu a notícia (originada no "The Sun") de que o oscarizado Danny Boyle já está sendo cotado para assumir a direção do próximo "007". Será mesmo? Ele já afirmou que pretende agora fazer um "filme de meninas", já que tem duas filhas e o próprio considera que até agora só fez muito "filme de menino". De qualquer forma, creio que seu estilo combina bastante com o modelo de ação que vem sendo apresentado nos últimos longas da franquia. Uma boa ideia (caramba, como fica tosca essa palavra sem acento).

domingo, 1 de março de 2009

Botafogo Campeão da Taça Guanabara!


Abro espaço aqui para repercutir uma notícia de suma relevância: o meu Fogão é o campeão da Taça Guanabra, derrotando o Resende (que eliminou aquele time de camisa feia com listras vermelhas e pretas) por 3x0 e poderiam ter sido até uns 6!!! Isso com um público de 75 mil pessoas no Maracanã!!!!!! Não é à toa que esse blog é alvinegro!!!!!

E NINGUÉM CALA ESSE NOSSO AMOOOOOOOR!!!!!!!!!! E É POR ISSO QUE EU CANTO ASSIM, É POR TI FOGOOO! FOGOOOOOOOO!!!!!!!! FOGOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!


Saudações da Estrela Solitária a todos!

Foi Apenas Um Sonho

Beleza Americana 2

O diretor Sam Mendes consagrou-se já no seu primeiro longa-metragem, intitulado “Beleza Americana”, conquistando 5 prêmios Oscar ao retratar o vazio da classe média estadunidense, seus sonhos de grandeza abortados e uma existência medíocre naquelas casas com uma grama verdinha e cerca branca. Utilizando uma ironia refinada, Mendes retratou uma família disfuncional onde o pai dava em cima da melhor amiga da filha adolescente, que por sua vez se drogava com um vizinho “esquisito”, enquanto a mãe, fútil, desenvolvia uma relação de semi-prostituição com o chefe no trabalho. Apesar do sarcasmo presente ao longo de toda a película, Mendes concluía com um tom otimista, mostrando que todas as vidas, mesmo as mais medíocres, possuem uma riqueza e beleza ímpares.

E é este mesmo tema que Mendes retoma em “Foi Apenas Um Sonho”, atualmente em cartaz nos cinemas nacionais. As semelhanças com o seu primeiro longa são realmente evidentes. Não seria estranho intitular este filme como “Beleza Americana 2”. Temos novamente um casal frustrado com sua condição. Ele (Leonardo Di Caprio) sempre teve aspirações artísticas, mas acaba em um emprego burocrático na mesma empresa onde seu pai trabalhou a maior parte da vida. Ela (Kate Winslet) é uma atriz fracassada que agora passa os dias na sua atividade de dona de casa. Vivem em um subúrbio, na rua Revolutionary Road (que dá título ao filme em inglês), em uma daquelas casas como a citada mais acima (grama verde, cerca branca...), mas também insatisfeitos com sua condição, muito embora sejam invejados pelos vizinhos como uma espécie de casal-modelo. Uma impressão que pode ficar é de estarmos vendo o mesmo filme, só que ambientado nos anos 50.

Mas nem tudo é tão igual assim. Se no primeiro filme, como já salientado, Mendes dá um tom de comédia sarcástica, neste novo trabalho o que predomina é o tom dramático do início ao fim da projeção. Não há espaço para alívios. Além disso, se o casal central de “Beleza Americana” vive junto apenas por aparências, aqui os dois realmente se amam (mesmo que com eventuais infidelidades), e o projeto de felicidade de um parece sempre incluir o outro. Eles se sentem especiais, destinados a ter uma vida que vá além dessa monotonia suburbana. E é pensando dessa forma que acabam reavivando um antigo sonho de morar em Paris, onde ela trabalharia como secretaria governamental, enquanto ele daria vazão aos seus ideais artísticos.

Apesar da ótima direção de arte, o que mais se destaca no filme são mesmo as atuações, trazendo este aspecto um peso maior que no equilibrado trabalho inicial de Mendes (no qual havia uma inventividade visual marcante). Di Caprio e Winslet (o casal “titânico’) estão excepcionais, carregando o filme nas costas (talvez até o próprio diretor tenha agido desta forma para amplificar o trabalho de sua esposa, Winslet). É até estranho que suas atuações neste longa, embora lembradas no Globo de Ouro, tenham sido esquecidas pela Academia. Winslet, ao menos, foi indicada (e vencedora) por “O Leitor”. Já Di Caprio acabou sendo mesmo esquecido em mais uma das injustiças que os votantes do Oscar lhe aprontam. Outro destaque vai para Michael Shannon, que faz o papel do filho da corretora que vendeu o imóvel ao casal (interpretada por Kathy Bates, mais uma de “Titanic”). Com problemas psiquiátricos, ele funciona como o elemento que expõe as verdades, que traduz abertamente em palavras aquilo que as pessoas “sãs” não têm coragem de falar. Embora a atuação de Shannon esteja ótima (o que lhe valeu uma indicação para a cerimônia), seu personagem constitui uma muleta narrativa já muito desgastada - quando não são pessoas com problemas psiquiátricos, freqüentemente se utilizam crianças para representar essa “consciência”.

Todavia, Mendes fecha a trama de uma forma bem mais pessimista nesta empreitada, não encontrando saída possível para seus personagens. O que talvez se torne frustrante para alguns que, após duas horas observando um casal que necessita de terapia, esperam algo mais em seu desfecho. Aliás, falando em terapia: talvez o filme até funcione como uma boa terapia de casal para aqueles que estejam precisando, mas não sigam tudo à risca, hein? Vocês saberão do que estou falando ao término da sessão...

Cotação: *** (três estrelas)
Nota: 7,5

P.S. Os espectadores presentes à sessão eram de uma extrema falta de educação. Cheios de piadinhas e conversas bobas em um filme em que absolutamente isso não cabe. O pior é que não se tratavam de adolescentes, mas de adultos que, pela idade mental, deveriam estar na 5ª série. Haja paciência. Mais um pouco eu levantava e quebrava a cara de um idiota que estava na minha fila. Palhaços!