sexta-feira, 30 de março de 2012

Trilha Sonora #22



Sessão dupla da série "Trilha Sonora".

Bem, no próximo dia 21 de abril, Paul McCartney, o maior músico pop vivo do mundo, irá se apresentar em Recife. Eu e minha noiva já estamos de ingressos e passagens compradas e já estamos entrando no clima do evento. Como ando ouvindo muito Beatles nos últimos dias (aliás, não só nos últimos dias, mas em toda a minha vida) comecei a rememorar filmes com canções dos Fab Four. Um bastante conhecido é "Uma Lição de Amor" (título nacional meloso para "I am Sam"), fime protagonizado por Sean Penn em que ele interpreta um pai com deficiências mentais que luta para ter a guarda da filha Lucy (Dakota Fanning). Sam é fanático pelos Beatles e todo o longa metragem é povoado de músicas do quarteto. Uma delas, a linda "Blackbird", você pode ouvir clicando logo abaixo, com interpretação original.






Outro filme recente que lembro imediatamente é o longa "Across The Universe", musical inteiramente baseado nas músicas dos quatro rapazes de Liverpool. Uma das versões mais marcantes apresentadas é a de "I Want To Hold Your Hand", com um andamento mais lento, uma voz feminina e com uma conotação jamais vista antes. Veja o mais rápido possível logo a seguir.



É impressionante como às vezes eu ainda me pego impactado por essas músicas. Elas vão fundo na alma. Os Beatles mudaram o mundo? Talvez. Talvez pouco ou talvez quase nada. Mas não é porque eles mudaram o mundo que nós gostamos deles. Nós costumamos gostar dos Beatles principalmente por conta de suas lindas canções. É por causa delas que ele foram e sempre serão a maior banda de todos os tempos!

domingo, 25 de março de 2012

Restaurando a Película


O Fio da Navalha
(The Razor's Edge, 1946)


Um bom clássico com “Tirone Pouer”



Diante da quantidade gigantesca de filmes que se tem a explorar, é inevitável que mesmo um cinéfilo acabe deixando de lado a filmografia de algum cineasta ou astros renomados. São os “pecados” que muitas vezes não gostamos de admitir nem para nós mesmos, mas aqui vou assumir publicamente um deles. Este clássico “O Fio da Navalha” (The Razor's Edge) é o primeiro longa-metragem a que assisti com o famoso ator Tyrone Power, um dos astros da Hollywood dos anos 30 e 40 e que, infelizmente, faleceu muito cedo, com apenas 44 anos, vítima de um infarto fulminante (o mal era de família, pois que seu pai morreu da mesma forma). Curioso que a primeira vez que vi alguma referência ao nome do ator foi ainda bem moleque, na HQ “Batman – O Cavaleiro da Trevas”, mais precisamente em um trecho em que Bruce Wayne recordava o assassinato dos seus pais logo após uma sessão de “A Marca do Zorro”, filme estrelado por ele, Tyrone Power, o qual para mim, com os meus parcos conhecimentos de inglês àquela altura, era o “Tirone Pouer”. Os anos passaram, eu me tornei um cinéfilo-que-escreve, mas ainda não havia apreciado qualquer atuação do astro e isso já vinha se tornando um verdadeiro fantasma assombrando minha vida de amante do cinema. De toda forma, sempre podemos ao menos tentar recuperar o tempo perdido e eis que me inicio nos trabalhos de Power com o longa-metragem de 1946 dirigido pelo inglês Edmund Goulding.*

Goulding foi, tal como Douglas Sirk, um grande diretor de melodramas, o que importa dizer que sua linguagem e ritmo cinematográficos possuem uma fácil comunicação com o público – linguagem esta que depois seria piorada e utilizada à exaustão pelas telenovelas. É comum se deixar envolver por suas narrativas, normalmente em termos maniqueístas, ondem mocinhos e mocinhas enfrentam megeras e indivíduos sem caráter. Alguns melodramas, entretanto, se colocam acima da média justamente por fugirem a esses lugares-comuns. Ao levar para as telas a adaptação da obra de Somerset Maugham, Goulding foi além de meras situações que fariam o público torcer pela moça desamparada. À exceção do protagonista Larry Darrell (encarnado por Tyrone Power), praticamente todos os outros personagens possuem um caráter imperfeito, aproximando-se, desta maneira, das tintas do cinema noir. Entretanto, mesmo Larry é um tipo incomum para o cinema de então. Afinal, ele nos é apresentado como um homem que não compartilha dos valores da sociedade capitalista, atenta apenas ao possuir e ao trabalho como uma forma de auferir maiores riquezas (e não como maneira de realização pessoal). Ex-combatente da 1ª Guerra Mundial, ele não se enxerga mais como um homem que se realize como empresário, advogado ou qualquer outra carreira tradicional. Entediado e deslocado diante dos valores da vida burguesa, Larry parte para a Europa em uma jornada de autoconhecimento que, posteriormente, o levará ainda até a Índia. Mas é claro que suas escolhas também importarão em perdas (afinal, assim é a vida). A mais significativa delas é a noiva Isabel Bradley, interpretada pela belíssima Gene Tierney, uma estrela em seu tempo, mas que hoje anda pouco lembrada. Filha de família abastada, ela não consegue compreender a angústia de Larry e muito menos concebe viver com recursos limitados. É uma mulher do seu tempo, que espera do marido todos os esforços para que tenham uma vida confortável. Entretanto, não conseguimos enxergá-la como uma pessoa exatamente ruim, mas tão somente limitada diante dos conceitos socioculturais dominantes.


É exatamente esta riqueza dos personagens o maior trunfo de “O Fio da Navalha”, característica que não se restringe ao mencionado casal central. Ao redor deles gravitam vários tipos interessantes e marcantes. Clifton Webb (que já havia trabalhado ao lado de Tierney no clássico do noir “Laura”, de 1944) interpreta Elliott Templeton, tio de Isabel, um aristocrata esnobe que tenta esconder sua própria decadência. Outro que marca boa presença é John Payne como o bom caráter Gray Maturin, além de Herbert Marshall encarnando o próprio escritor Somerset Mugham, em um recurso de metalinguagem do longa. Entetanto quem acaba mesmo roubando a cena é Anne Baxter (que mais tarde seria “A Malvada” do filme estrelado por Bette Davis) como a sofrida Sophie McDonald, uma mulher intensamente feliz até perder o marido e o filho em um trágico acidente, fato que a leva ao alcoolismo e a um estado de semiprostituição. A entrega de Baxter ao papel lhe rendeu um merecido Oscar de atriz coadjuvante (Clifton Webb também foi indicado como ator coadjuvante).


Por outro lado, além da ótima direção de atores, Goulding consegue estabelecer um ritmo que prende o espectador e faz com que este nem sinta os 145 minutos do longa. Isso se deve muito também à fluidez do roteiro, uma boa adaptação levada a cabo por Lamar Trotti, muito embora fosse possível explicar melhor os traumas vividos por Larry no conflito mundial, que são apenas referidos em um diálogo entre ele e Isabel. Também é possível afirmar que o filme carece de uma maior força imagética, fragilidade possivelmente decorrente das preferências de Goulding, que não gostava de filmar em locações, mania talvez proveniente de suas origens teatrais. A trilha sonora de Alfred Newman, mesmo que muito bonita, por vezes soa com um certo sensacionalismo, com tons meio exagerados. No entanto, há bons momentos com canções incidentais, as quais lançam um bem-vindo teor naturalista às sequências.

E Tyrone Power? Merece mesmo o adjetivo de “grande astro” do cinema? Bem, embora ele não tenha me parecido exatamente um Marlon Brando, não se pode negar que tinha muito carisma. Era um bom ator, cujo tipo físico lembrava o de James Stewart, mas que parecia sempre precisar de um bom diretor de atores para realizar um trabalho mais marcante, como foi o caso aqui. Contudo, talvez até melhor do que finalmente conhecer o “Tirone Pouer”, foi descobrir que “O Fio da Navalha” é uma obra bastante interessante e que anda por aí injustamente relegada ao esquecimento. Até poucos dias, eu nunca nem sequer tinha ouvido falar desta película (que até foi indicada ao Oscar de melhor filme também) e agora eu já trago boas memórias dele. Clássicos: é por essas e outras que é essencial vê-los!


Cotação:

Nota: 8,5


* O filme foi uma sugestão da colega blogueira Suzane Weck. No seu espaço você poderá conferir a, como sempre, ótima interpretação dela para "Mam'selle", uma das canções ouvidas no longa! Não deixe de acessar!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Obrigado, Chico!


Pausa no cinema.

Hoje, 23 de março de 2012, faleceu um dos maiores gênios do humor não só do Brasil, mas do mundo. Francisco Anysio de Paula Filho deixou uma herança humorística praticamente inigualável, com uma enorme quantidade de tipos memoráveis como Pantaleão, Alberto Roberto, Qualhada e vários outros. Entre os meus preferidos estavam Jovem, com seu comportamento sempre  "anti-careta"  e Justo Veríssimo, uma crítica afiada e sempre atual à nossa corrupta classe política. O humor de Chico era assim, sempre muito inteligente. Seguem abaixo dois videos com os personagens destacados. Obrigado, Chico. Descanse na bênção de Deus!






domingo, 18 de março de 2012

Curtindo o Curta #3


"La Jetée" (em francês, "o cais" ou "o pier") é, com certeza, um dos melhores curtas-metragens de todos os tempos. Impressionante que, em apenas 28 minutos, ele consiga ser mais complexo e marcante do que muitos filmes com até 3 horas de duração. Dirigido em 1962 pelo francês Chris Marker, um documentarista que realizou aqui uma de suas poucas ficções, o curta é uma ficção-científica pós-apocalipse nuclear onde a humanidade vive agora nos subsolos, já que a superfície se tornou inabitável. Para tentar evitar que a tragédia ocorra, um homem é escalado por cientistas para fazer uma viagem ao passado e mudar a sucessão de fatos que levariam à dita hecatombe nuclear. Ele, no entanto, apaixona-se por uma mulher que, desde a infância, lembrava-se de ter visto no aeroporto de Orly e, a cada viagem no tempo, passa a viver mais intensamente esse amor. Apenas através desta breve sinopse, já é possível perceber que o filme de Marker teve grande influência em vários exemplares do gênero que vieram posteriormente, como "O Exterminador do Futuro" ( The Terminator, 1984) e "Os 12 Macacos" (Twelve Monkeys, 1995), longa de Terry Gilliam que se constitui em uma adaptação expandida de "La Jetée". Mas a obra não é apenas influente, é também (e principalmente) uma experiência única, pois que ele é construído como uma fotomontagem. Em apenas uma das sequências do filme as imagens possuem movimento. Você descobrirá qual delas, assistindo o mais rápido possível clicando no video legendado abaixo. Melhor do que ficarmos aqui de blá-blá-blá é ver este filme ao qual você não ficará indiferente. Boa sessão!


quarta-feira, 14 de março de 2012

John Carter - Entre Dois Mundos


O tempo não ajudou


A cultura de massas tem como efeito colateral banalizar certos tipos de estruturas narrativas que, de tão mastigadas, vêm causando muito mais enfado e impaciência nas plateias do que algum tipo de entusiasmo. Não que isso seja um fenômeno exatamente novo. Afinal, “Dom Quixote De La Mancha”, a obra-prima de Miguel de Cervantes, já se constituía, nos idos do século XVII, em uma crítica aos exageros e mesmice dos então populares romances de cavalaria. Entretanto, também tem razão quem diz que todas as histórias já foram contadas, só o que muda é a forma de contá-las e é nessa ideia que os produtores, em tempos de uma maré criativa tão baixa como a atual, parecem se apoiar para realizar os seus mais pesados investimentos, sempre apegados a uma noção de cinema voltado para o público adolescente-masculino. E põe pesados nisso. Com “John Carter: Entre Dois Mundos”, a Disney-Pixar investiu nada menos que 250 milhões de dólares, colocando o longa-metragem entre os 10 mais caros da história.

Não deixa de ser corajosa a atitude do estúdio em investir tanto dinheiro em um personagem pouco conhecido, criado por Edgar Rice Burroughs (o autor de Tarzan) 100 anos atrás, em 1912, na ficção “Uma Princesa de Marte”, fugindo da zona de conforto de adaptar apenas figuras com um prévio grande apelo pop (como é o caso dos heróis das HQs de hoje, como Homem-Aranha ou os X-Men). Claro que tanto investimento também faz parte de seus planos mercadológicos de emplacar uma nova franquia - algo que já havia tentado, sem o sucesso esperado, com “O Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo” (Prince of Persia: The Sands of Time, 2010) - para substituir a série “Piratas do Caribe”, que já demonstra sinais de cansaço. Mas é saudável que, pelo menos a princípio, saia da acomodação e explore um novo universo,apto a trazer algum sabor de novidade ao mercado de blockbusters.

O maior problema desta adaptação é justamente a sensação de que ela não soa tão original quanto deveria ser. A ideia de adaptar o livro de Burroughs era bastante antiga, remontando aos anos 30. Todavia, acabou ficando de lado e outros livros e filmes acabaram bebendo da fonte criada por Burroughs - como é o caso de George Lucas, cuja série “Star Wars” tem no planeta Tatooine, com seu visual desértico, uma nítida demonstração da influência da obra do primeiro. Sendo assim, ao longo da projeção, é inevitável que o espectador se lembre de tramas semelhantes (a maioria recordará de “Avatar”), onde um homem acaba tendo de superar as barreiras culturais impostas pelo contato com um nova civilização para, posteriormente, unir-se a elas e vencer inimigos e adversidades. No caso de John Carter (interpretado pelo desconhecido Taylor Kitsch), ele é um ex-combatente da Guerra de Secessão, cheio de vários traumas oriundos do conflito. Ao descobrir, por acaso, uma mina de ouro, Carter encontra nela um estranho artefato que o transportará em um piscar de olhos ao planeta Marte, o qual é denominado pelos nativos de Barsoom. Lá, terá de reaprender até mesmo a andar, já que os dois planetas possuem gravidades diversas. Também lidará com três povos diferentes, todos em conflito e conhecerá a princesa de um deles, Dejah Thoris (a também pouco conhecida Lynn Collins), por quem obviamente se apaixonará.



Dirigido por Andrew Stanton, estreante no cinema live-action (ele é o diretor das excelentes animações “Wall-E” e “Procurando Nemo”), a trama se desenrola redonda, sem atropelos, contando direitinho a estória (sabendo usar bem o recurso dos flashbacks para mostrar o passado de Carter) e estabelecendo um bom ritmo para a ação, em alguns momentos realmente vibrante, contando com ótimos efeitos especiais e uma bela fotografia dos “desertos de Marte” - na realidade, os desertos do estado de Utah, famosos no cinema pelos westerns do mestre John Ford. Há ainda uma boa sacada metalinguística do roteiro em colocar o próprio Edgar Rice Burroghs como o sobrinho de John Carter, exercendo papel importante na forma como a narrativa se desenvolve. E os atores-protagonistas, desconhecidos do grande público (o que talvez seja uma ideia acertada para começar uma franquia, vide o trabalho de Lucas no “Star Wars” original), até que não comprometem, com Taylor Kitsch, mesmo oscilante, rendendo bons momentos.

No entanto, como quase tudo que vemos no circuito comercial hoje, a sensação de que já vimos todo aquele enredo em algum lugar é constante. Todos os passos são previsíveis. A chegada e estranhamento de Carter no no novo mundo; sua aproximação dos nativos; a sua consagração como herói... Mais uma versão moderna e pop de “Pocahontas”, enfim, com aquele subtexto de respeito aos povos e suas culturas que agora já aparece como clichê (muito embora nunca perca sua relevância). Uma pena que as ideias originais de Burroughs tenham caído na banalidade neste longo lapso temporal que separou seus escritos da adaptação para a tela grande. E é fazendo justiça ao autor que podemos elogiar seu poder criativo, mesmo que hoje a aventura não cause o impacto que deveria, resultando a sessão em apenas um bom divertimento.


Cotação:

Nota: 7,5

segunda-feira, 12 de março de 2012

Eu Quero Esse Pôster #19

A seguir, dois trabalhos do artista gráfico Ken taylor, dono de um estilo que remete à estética dos quadrinhos. O primeiro é do já clássico terror "Poltergeist".


E abaixo, o trabalho do artista para o badalado "Drive".

quinta-feira, 8 de março de 2012

Filmes Para Ver Antes de Morrer


A Moça Com A Valise
(La Ragazza Con La Valigia, 1961)


Uma diva, um adolescente e um grande cineasta



Você conhece a obra do diretor italiano Valerio Zurlini? Bem, se a resposta for negativa, não se sinta culpado (a). Zurlini foi um diretor talentosíssimo, mas que teve ao mesmo tempo a sorte e o azar de participar de um momento importantíssimo de efervescência do cinema italiano, disputando espaço com outros nomes como Federico Fellini, Luchino Visconti ou Michelangelo Antonioni. Ou seja, diante da concorrência destes popstars da direção, a filmografia de Zurlini acabou meio que passando despercebida, mesmo que tivesse, tal como a dos nomes citados, uma qualidade diferenciada. Outro fator que certamente contribuiu para o relativo esquecimento de sua obra foi seu temperamento difícil e rigoroso, o que fazia com que ele não tivesse muito trânsito no meio, redundando em dificuldades para realizar seus projetos. Um exemplo disso foi o aclamado “O Jardim dos Finzi-Contini” (Il Giardino dei Finzi-Contini, 1970), um projeto inicialmente de Zurlini, mas que ele acabou passando para Vittorio De Sica, exatamente porque o primeiro não estava encontrando meios de filmá-lo. Tal circunstância também se deveu, consideravelmente, à crítica italiana, a qual não recebia com os devidos méritos os trabalhos de diretor, talvez por estar influenciada excessivamente pela Nouvelle Vague e seus conceitos de ruptura, algo que não era a proposta do cinema de Zurlini. Essa baixa recepção da crítica fazia com que os produtores italianos não se interessassem pelos seus projetos e a verdade é que nos seis últimos anos de vida ele não conseguiu rodar um filme sequer. Mas há um aspecto na obra deste cineasta que talvez tenha passado desapercebido dos críticos de então e que era sua principal comunhão com a Nouvelle Vague. Zurlini foi, antes de tudo, um autor. Seus longas estão impregnados de marcas pessoais, detentores inclusive de passagens de teor autobiográfico, como é o caso de “A Moça Com A Valise” (La Ragazza Con La Valigia), seu longa de 1961 protagonizado por uma Claudia Cardinale no auge da beleza, além do jovem Jacques Perrin.

Vendo hoje esta obra peculiar, é inevitável perceber o quanto os críticos podem ser dotados de uma acentuada miopia. “La Ragazza Con La Valigia” é um filme de extrema sensibilidade e sutilezas, com uma construção apurada dos personagens que temos o prazer de ir descobrindo ao longo de suas duas horas de projeção. Na trama, conhecemos, logo na primeira sequência, a cantora de restaurantes e cabarés Aída Zepponi (Cardinale), uma mulher extremamente bela mas, até certo ponto, ingênua, sendo engada pelo playboy Marcelo Fainardi que a abandona em uma oficina de beira de estrada. Contudo, o local é próximo da cidade onde vivem os Fainardi e Aída consegue chegar à mansão destes. Lá, ela conhece Lorenzo (Perrin), um adolescente de 16 anos que irá enxergar nela sua primeira paixão. A tentativa de viver esse sentimento será para ele um rito de passagem, já que com o amor virão as inevitáveis desilusões e o consequente amadurecimento.


Esta temática da chegada da maturidade já havia sido abordada por Zurlini em seu longa anterior, “Verão Violento” (Estate Violenta, 1959), onde um jovem também se apaixona por uma mulher mais velha, mas é aqui que ele encontra a forma perfeita de externar as inquietudes, aspirações e intensidade desta fase da vida. Ademais, a construção da persona de Aída é algo que chega mesmo ao brilhantismo. Apesar de, em alguns momentos, podermos perceber que ela pode estar usando o jovem Lorenzo em benefício próprio, o diretor jamais induz o espectador a julgamentos fáceis, pois que também é perceptível que Aída é, antes de tudo, uma sobrevivente, uma mulher que não consegue escapar de uma prostituição velada diante das imposições e submissões de uma sociedade machista. Um comentário de caráter social bem de acordo com as posições políticas do diretor, membro do Partido Comunista italiano (como era, em geral, a maioria dos diretores da Itália). É interessante observar que todos os homens da narrativa enxergam em Aída apenas um corpo, uma fonte de prazer. Lorenzo é o único que escapa desta visão e que consegue enxergar na cantora um ser humano, uma mulher com seus sonhos, personalidade, necessidades e fraquezas. Ela percebe que Lorenzo é diferente dos outros e por isso não consegue se desligar dele, muito embora seu sentimento pelo garoto seja ambíguo, não exatamente carnal. Trata-se de um quase platonismo recíproco.

Realçando a profundidade e beleza da narrativa, temos uma força imagética peculiar. Zurlini filmava como poucos, sabendo encontrar sempre o melhor ângulo para cada sequência, valorizando tanto a beleza da atriz como a expressividade de Perrin. Algumas de suas composições cênicas são mesmo primorosas, como a memorável cena em que Aída desce a escadaria da sala dos Fainardi ao som da ópera homônima colocada na radiola por Lorenzo, resultando em um momento visual simplesmente inesquecível. Aliás, a utilização de uma trilha sonora que vai da ópera à música pop italiana é um dos pontos altos do trabalho de Zurlini, sabendo adequar à perfeição canção e imagem, como na sequência linda e também memorável em que Lorenzo, corroído de ciúmes, assiste a Aída dançar com um indivíduo boçal enquanto ele fica de lado. Este tipo de associação entre música e imagem seria mais tarde usado por muitos diretores, de Martin Scorsese a Quentin Tarantino. Adicione-se a isso a belíssima fotografia em preto e branco de Tino Santoni e temos um filme que se coloca como uma coleção de imagens realmente difícil de ser imitada.


Valorizando ainda mais o longa, temos a ótima atuação de Jacques Perrin e a grande presença da diva Claudia Cardinale. Ela ainda não havia se firmado como uma estrela na época e foi por força do produtor (que depois seria também seu marido) Franco Cristaldi que ela acabou ganhando o papel no filme. O problema de Claudia até então, o que possivelmente contribuía para ela não se firmar, era a sua voz um tanto rouca, fazendo com que ela fosse dublada (uma estratégia meio cretina dos estúdios naqueles tempos) e aqui não foi diferente (o primeiro filme em que se usou a sua verdadeira voz foi o “8 ½” de Fellini). Destarte, a despeito deste problema, sua presença em cena é fantástica, não apenas pela beleza, mas também pelo ar ao mesmo tempo sedutor e desprotegido que consegue atribuir a Aída. Personagem e intérprete, inclusive, tinham algo importante em comum, [SPOILER] já que Cardinale, tal como Aída, era realmente uma mãe solteira, fato que escondeu durante anos com medo da reação do público e da Igreja Católica. Em aparições públicas, seu filho era tomado como “irmão mais novo”, sendo que somente quando ele já tinha 19 anos o segredo foi revelado (o que não causou maiores comoções) [FIM DE SPOILER].

“La Ragazza Con La Valigia” se constitui, desta forma, em uma ótima iniciação na obra deste brilhante cineasta chamado Valerio Zurlini, um nome digno do auge do cinema italiano, quando os longas de Visconti, Fellini ou Antonioni lotavam os cinemas, inclusive os brasileiros (sim, esse tempo já existiu). Se Lorenzo tem na película a sua iniciação amorosa, o espectador pode ter nela o princípio de um caso de amor com a obra de um diretor que pode ser colocado entre os grandes mestres do cinema da Itália. Um artista singular que filmou pouco (além de suas dificuldades para realizar projetos, Zurlini morreu cedo, com 56 anos), mas foi o suficiente para ser definido como o “poeta da melancolia”.


Cotação:

Nota: 10,0

sexta-feira, 2 de março de 2012

Heleno - Trailer


Como bom torcedor do Botafogo de Futebol e Regatas, eu não poderia deixar passar desapercebida a estreia que se aproxima do filme sobre um dos grandes jogadores da história do clube. Heleno de Freitas, além de um Craque (assim mesmo, com "C" maiúsculo), foi uma das personalidades mais marcantes do Rio de Janeiro dos anos 40. Ele foi um dos primeiros jogadores a se tonar um popstar, não apenas por seu talento futebolístico, mas também pelo lado sedutor e temperamental que lhe valeu o apelido de "Gilda", em alusão à famosa personagem encarnada pela diva Rita Hayworth nas telas no filme homônimo. Na adaptação dirigida por José Henrique Fonseca, o craque-problema será interpretado por Rodrigo Santoro e o elenco conta ainda com Alline Moraes, Othon Bastos e Herson Capri. Veja o trailer abaixo. Obviamente, não vou deixar de conferir a estreia no próximo dia 30 de março.