sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Histórias Marcantes do Cinema

Inauguro com este post uma nova série no "Cinema Com Pimenta", dedicada a contar um pouco da história dessa arte tão apaixonante. A seção tratará tanto de fatos que marcaram época, quanto de personalidades importantes nos desenvolvimento do Cinema. Uma tentativa de acender a curiosidade dos cinéfilos acerca de momentos e nomes já distantes, mas de extrema relevância no desenvolvimento da Sétima Arte. Vamos começar? Só acompanhar o texto abaixo.


Alice Guy-Blaché - A primeira (e esquecida) diretora de cinema


Quando lembramos dos pioneiros da Sétima Arte, logo recordamos os irmãos Lumiére, celebrados como os “inventores” do cinema. Assim mesmo, entre aspas, uma vez que o cinema, na verdade, foi uma invenção coletiva. Outro bastante lembrado costuma ser Georges Méliès, o diretor de “Viagem à Lua” (La Voyage Dans La Lune, 1902), filme que pode ser considerado o primeiro do gênero ficção científica e um dos precursores no uso de efeitos visuais. Principalmente depois de “A Invenção de Hugo Cabret” (Hugo, 2011), longa de Martin Scorsese, Méliès tornou-se um figurinha carimbada do meio cinéfilo, recebendo homenagens e constando em todos os livros que se prestam traçar, mesmo que de forma sintética, a história do cinema. Entretanto, há alguns nomes pioneiros a quem o tempo ainda precisa fazer justiça. Um deles é o de Alice Guy-Blaché. Não sei se por um provável machismo ou simplesmente uma dessas injustiças corriqueiras, mas esta francesa, que desenvolveu um belíssimo trabalho nos primórdios da produção cinematográfica, ainda precisa ter o seu valor reconhecido.

Guy-Blaché foi a responsável por dirigir cerca de 700 curtas-metragens na aurora do cinema. E, talvez mais importante do que ser a primeira mulher diretora, ela foi a realizadora daquele é considerado o primeiro filme com roteiro (1): A Fada dos Repolhos (La Fée Aux Choux, 1896), uma fantasia acerca do nascimento dos bebês. Uma produção de valor inegável para a cinematografia, uma vez que, até então, os filmes se limitavam a exibir imagens documentais de eventos cotidianos, como a chegada de um trem na estação ou ida de trabalhadores a uma fábrica. São apensa 57 segundos de projeção, mas que trouxe algo, até então, inédito. Vale dizer que ela foi também a única mulher até hoje que conduziu o seu próprio estúdio, o Solax.

Nascida na França em 1 de julho de 1873, Alice Guy começou sua carreira como secretária na Gaumont Film Company. Em 1907 se casa com Herbert Blaché (daí o seu sobrenome), o qual, ao ascender ao posto de gerente de produção da Gaumont nos Estados Unidos, imigra com a família para o país. Em 1910, Alice e Herbert, em parceria com George A. Magie, criam o Solax,o maior estúdio pré-Hollywood dos EUA. Enquanto Herbert trabalhava como gerente e produção e cineasta, Alice se tornou a diretora artística. O estúdio foi tão bem sucedido que, em apenas dois anos, investiram cerca de cem mil dólares em novas instalações tecnológicas em Fort Lee, Nova Jersey.


Anos depois, em 1918, Herbert abandona a esposa e vai para Hollywood com uma de suas atrizes. Com o declínio da Costa Leste como lar do cinema em favor do clima mais propicio de Hollywood, a parceria cinematográfica também temina. Voltando à França em 1922, embora nunca mais dirigindo qualquer produção, concede palestras sobre cinema e escreve romances baseados em seus roteiros. Em 1953 o governo francês lhe condecorou com a maior honra para um civil: a Legião da Honra. Nunca mais se casou e em 1964 retornou aos EUA para ficar com uma de suas filhas, vindo a falecer em 1968, aos 94 anos, em uma casa de idosos.

Abaixo, confira a “Fada dos Repolhos”, uma das grandes contribuições dessa mulher excepcional ao cinema.





(1) Segundo Mark Cousins, em "História do Cinema - Dos Clássicos Mudos ao Cinema Moderno". Martins Editora. 1ª ed. 2013.
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2 comentários:

Unknown disse...

Muita bacana essa sua proposta, Fábio. Recentemente escrevi sobre um documentário de Wim Wenders, Um Truque de Luz, que fala um pouco sobre esses pioneiros do cinema. Conceber todos os louros aos Lumiere é covardia... hehe

Adorei o curta, apesar de curtinho, têm sua magia. Desconhecia totalmente essa diretora. Sua história também merecia um filme ou documentário.

Abração!

Raildon Lucena disse...

Parabéns pela nova série. Vou ficar aqui acompanhando.

Abraços potiguares,

Raildon Lucena