domingo, 15 de dezembro de 2013

Os Suspeitos

Prenda a respiração e reflita


Como é possível perceber pela data da última postagem, “O Cinema com Pimenta” anda meio, digamos assim, “parado”, com um baixo número de atualizações. Isso se deve, em boa parte, ao trabalho, que está consumindo quase todo o meu tempo nos últimos meses e tem me deixado com pouca disposição para escrever. Entretanto, o marasmo do blog também se deve à correria em que eu e minha esposa nos encontramos no preparo da chegada do nosso primeiro filho, prevista para o próximo mês de março. Sim, já sou um papai dedicado que vê seu tempo cada vez mais tomado por essa criaturinha que ainda nem nasceu, mas que eu já amo muito. Bem, de qualquer forma, em meio ao corre-corre dos últimos dias, encontrei um tempinho na última sexta-feira para assistir a um dos filmes que se transformaram em sensação no presente ano de 2013. Trata-se do ótimo suspense “Os Suspeitos”, que não é o de Bryan Singer (produzido em 1995), mas o do canadense Dennis Villeneuve (será que ele tem parentesco com a família de pilotos de F1?), o mesmo diretor do premiado “Incêndios” (Incendies, 2010), longa que não tive a oportunidade de assistir, mas do qual já ouvi ótimas referências.

Não sei no caso do citado “Incêndios”, mas em “Os Suspeitos” Villeneuve deixa transparecer uma acentuada influência do trabalho de um dos mais cultuados diretores da atualidade: David Fincher. Ao logo das quase duas horas e meia de projeção, sentimos aquele clima opressor e um tanto sombrio de suspenses como “Seven – Os Sete Crimes Capitais” (Se7en,1995) ou “Zodíaco” (Zodiac, 2007). Até a paleta de cores usada na fotografia (de Roger Deakins), dessaturada e repleta de sombras, remete aos filmes de Fincher. Contudo, seria leviano afirmar que Villeneuve se limita a ser uma espécie de “imitador” de Fincher. Através de uma trama que poderia render apenas alguns minutos de suspense para o público, Villeneuve desenvolveu uma perspicaz alegoria para abordar uma antiga questão e caráter ético e moral: os fins justificam os meios? Por mais nobres e justificáveis que sejam nossas motivações, será que podemos nos valer de qualquer forma para atingirmos nossos objetivos? É uma pergunta difícil, mas que Villeneuve não se furta a responder de maneira satisfatória ao término do longa.


Para tanto, ele se vale de um roteiro (escrito por Aaron Guzikowski) que estabelece dois protagonistas, quase antagônicos. Um deles é Keller Dove (Hugh Jackman, ótimo), um carpinteiro pai de dois filhos que vê sua rotina virar de ponta cabeça quando sua caçula é sequestrada juntamente sua melhor amiga. É a deixa para que desperte seus instintos paternais de proteção, levando a busca pela menina até às últimas consequências, incluindo extrema violência em relação aos suspeitos. O outro protagonista é o detetive Loki (Jake Gyllenhaal, que não é o irmão do Thor), um policial que se torna obsessivo na busca pelos criminosos responsáveis, mas que jamais ultrapassa a fronteira ética em suas investigações. Nas entrelinhas, Villeneuve parece realizar uma crítica a expedientes espúrios costumeiramente usados pelo Estado (mormente o norte-americano) ao procurar culpados por delitos, principalmente os relacionados ao terrorismo, quando não são respeitados os mais elementares direitos dos acusados.



De qualquer forma, à parte o mencionado subtexto, “The Prisoners” funciona perfeitamente enquanto filme de suspense, daqueles de tirar o fôlego, deixando o espectador em estado de tensão praticamente ao longo de toda a projeção do longa. Mais um mérito do roteiro, que não entrega nada de mãos beijadas ao público, fazendo-o pensar e se interrogar sobre a verdadeira trilha a ser percorrida. Além da já mencionada fotografia soturna, contribui ainda a ótima edição de Joel Cox e Gary Roach, dando ritmo a uma narrativa que poderia se tornar massante devido à longa duração da película. Outro ponto alto são as atuações. Hugh Jackman tem uma de suas melhores presenças ao interpretar o desesperado pai à procura de sua filha, trabalho que possivelmente lhe renderá outra indicação ao Oscar. Entretanto, creio que aquele que mais merece ser lembrado pela Academia é Jake Gyllenhaal como o detetive Loki. Em uma atuação contida e introspectiva, ele rouba as cenas em que aparece mesmo quando não fala muito. Também se destacam pelo apuro na composição dos seus respectivos personagens Paul Dano, na pele do suspeito que é alvo preferencial da obsessão de Keller Dove, que tem uma presença memorável em cena, assim como Melissa Leo, praticamente irreconhecível como uma velha senhora que perdeu uma filha vítima de câncer. É uma pena que as premiações estejam ignorando o primoroso trabalho do elenco. O Sindicato de Atores não lembrou dos intérpretes em nenhuma categoria entre os seus indicados, assim como o Globo de Ouro. Mas o que dizer de premiações que chegaram ao cúmulo de indicar Daniel Brühl, de “Rush – No Limite da Emoção”, na categoria de melhor ator coadjuvante se ele interpreta o personagem central do filme? Nem preciso falar mais nada, né?

Não é o fato de ser ignorado pela temporada de prêmios que vai fazer de “Os Suspeitos” um filme menor. Com certeza, é um dos melhores longas de 2013 e não por acaso foi aplaudido no Festival de Toronto. Bem, ganhando ou não prêmios, a qualidade de “The Prisoners” continua intacta, sendo um dos melhores filmes de 2013, sem dúvida. Não sei se chego a essa conclusão por viver um momento em que estou prestes a me tornar pai e a temática do longa, desta forma, me atingiu de maneira especial. É possível que sim, mas, diante da chiadeira geral que surgiu devido ao seu esquecimento na temporada de prêmios, percebo que ele vem agradando em muito ao público. Há tempos não aparecia um suspense tão interessante entre produções hollywoodianas. Para prender a respiração durante e refletir depois da projeção.


Cotação:



Nota: 9,0
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2 comentários:

Hugo disse...

Realmente é um grande filme.

A cada novo trabalho o diretor canadense Denis Villeneuve mostra que tem talento.

Ainda considero "Incêndios" um pouco superior.

Assisti e comentei no blog também o interessante "Polytechnique" que ele dirigiu em 2009.

Abraço

railer disse...

filmaço!
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